Diário de bordo 24 de fevereiro de 2021 - 3° Encontro às Quartas 6°D e 8°A

Projeto Cultural de Escola - Plano Nacional das Artes enquadramento no
Projeto "Fenais a Fenais:Cultura Matriz do Desenvolvimento Local"

Diário de bordo 24 de fevereiro de 2021   

3° Encontro às Quartas 6°D e 8°A

Hoje atracamos no porto 3º Encontro às Quartas. As últimas semanas têm sido muito enriquecedoras, saboreamos pequenas histórias repletas de beleza e autenticidade.

Até agora a nossa viagem tem sido Mágica.

O céu estava imaculadamente azul. A Nau “TEAMS” ganhou um novo brilho com a entrada das Companheiras Iva e Sónia Miranda.

Durante a organização da nossa viagem rumo à Grande Aventura, um dos nossos objetivos é contactar ao máximo com a Cultura e o Património de Rabo de Peixe e dos Açores, enriquecendo e valorizando a experiência que já por si se anunciava repleta de Momentos Memoráveis.

Embalada pelas histórias a Companheira Maura partilhou a história do “Bom Pirata Almeidinha”. José Joaquim Almeida nasceu em Rabo de Peixe, ilha de São Miguel, no ano de 1777, dedicou-se, desde muito cedo, às atividades do Mar. Em 1796 emigrou para os Estados Unidos da América, fixando residência em Baltimore, estado de Marylant. Obteve cidadania, dedicou-se ao tráfego mercantil. Casou com Teresa Ana e foi pai de dez filhos. Participou na “Guerra anglo-americana de 1812” entre os Estados Unidos e o Reino Unido e na “Guerra da Independência da Argentina”. Em ambas as guerras foram-lhe reconhecidos atos heroicos. Foi recrutado como Pirata/Corsário em Baltimore. Estrategicamente, nos anos 1819 e 1820, vem para os mares dos Açores, local de passagem obrigatória da rota marítima de então, ao comando de uma linda embarcação veleira de dois mastros, nove peças de cada lado, um rodízio no centro, e uma tripulação de cento e sessenta homens. O seu comandante, o “Pirata Almeidinha”, era referido como um moço de presença agradável, valente e generoso. Na ilha do Corvo faz amizade com o Pároco local João Inácio Lopes. Enquanto andou por lá ofereceu estabilidade e conforto ao povo do Corvo. A situação alterou-se quando o Capitão-General dos Açores, sediado na ilha Terceira, proíbe o padre de abastecer o Pirata Almeidinha. O Padre não cumpriu a ordem e foi chamado à ilha Terceira para ser julgado. O Pirata Almeidinha passa na ilha do Corvo e sabe do que se passou com o seu amigo. Entrega ao Juiz de Paz da ilha, um potente Óculo para ajuda na defesa da ilha e sua população e 7500 peças em ouro, para doar ao Padre, como compensação dos dissabores que lhe tinham sido infligidos por sua causa. O Padre usou a oferta do Pirata Almeidinha para comprar dois cordões em ouro e jóias que passaram a ornamentar a imagem de Nossa Senhora dos Milagres, Padroeira da Igreja Paroquial. Pelo que se sabe do Pirata Almeidinha estamos na presença de um homem de causas, com objetivos bem definidos que o tornaram um Herói, um Valente, um Generoso e que muito honrou as suas Origens e a História dos Açores.

Os nossos Marujos querem ser como o “Bom Pirata Almeidinha”, honrar as suas Origens, Cultura e Património quando chegarem ao porto Grande Aventura.

Objetos, Lembranças e Memórias são formas de “guardar o tempo”.

E foi justamente o que os nossos Marujos fizeram, foram em busca de histórias para eternizar os relatos dos intervenientes.

A Maruja Érica desta vez contou-nos a história de Maria Estrela, 59 anos, natural de Rabo de Peixe. “Tenho medo do Mar: Quando era pequena fui tomar banho à “Valeta”, que vocês conhecem agora como “Calhau”. Tinha 10 anos, estava à beirinha da água, veio uma onda e atirou comigo. Até hoje fiquei com Medo. Gosto de estar com os pés no Mar e olhar para Ele, mas ir à água é que Não. Somos sete irmãos, eu e o meu irmão Luís não sabemos nadar. Já no Canadá com 48 anos fui tomar banho na piscina, em casa de um tio. Entrei julgando que tinha pé, mas como sou pequenina não tinha, ia-me afogando. Se não fosse o teu avô hoje não estava aqui para te contar esta história.”

A Maruja Letícia tentou entrevistar a Mãe sobre o Mar e o Medo. Mas ela não conseguiu pronunciar uma única palavra ficou muito emocionada, pois tinha perdido duas Pessoas no Mar e ainda lhe custa muito falar sobre esse assunto.

A Companheira Cláudia disse-nos que quando alguém nos seus filmes, se comove com alguma situação, por vezes pensa se deve continuar ou não. (Pessoas Reais e Histórias Reais)

A Companheira Bruna de Fenais a Fenais contou-nos que quando faz entrevistas tem necessidade de parar, pois as Pessoas ficam muito emocionadas e às vezes têm que regressar no outro dia para prosseguir com a entrevista.

O Marujo Afonso também quis partilhar uma história. A viagem passa mais depressa e Nós ficamos mais “Ricos”. “O Barquinho Amarelo: Sancho Eiró, 42 anos, natural do Faial e residente em São Miguel desde os 9 anos. Eu tinha 8 anos, vivia na ilha do Faial, na Freguesia do Pasteleiro. Vivíamos mesmo à beira-mar. Tínhamos vista para o Pico e para a Praia de Porto Pim. Eu gostava de brincar com barquinhos. Nessa altura o teu avô ofereceu-me um barquinho amarelo de borracha. Um dia eu estava a brincar nas Poças - veio uma Onda Grande, eu fugi, mas o barco estava na água e foi com Ela. Vi o barquinho a ir embora. Aos 8 anos ainda não nadava muito bem. Fui para casa e disse à tua avó que tinha ficado sem o meu barquinho. O teu tio Carlinhos era bom nadador e tinha um amigo que tinha um bote. Como viu que eu estava muito triste foi buscar o bote ao porto e conseguiu trazer-me o meu barquinho e eu fiquei Muito Feliz.”

A imagem que ficou na nossa cabeça foi de um Menino a Sorrir com o seu Barquinho Amarelo na Mão.

A Companheira Cláudia falou-nos de Virgílio Viéitez, que começou a fotografar de forma amadora e tornou-se num dos mais aclamados fotógrafos da sua geração em Espanha. Os seus retratos individuais e de grupo, sobretudo famílias, recorrendo a recursos parcos, como lençóis como pano de fundo e fotografias nos quintais para terem acesso a luz natural, mas muito representativos das histórias de vida das Pessoas.

Das nossas caixas começamos a imaginar os retratos de família e individuais que iremos fazer, vai ser uma experiência muito divertida.

Por falar em experiência a Maruja Sofia contou-nos um dos Maiores Medos de Goretti Gonçalves, 48 anos. “Um dos Meus Maiores Medos: Tenho medo de algum dia estar perante uma situação como um Tsunami, ou estarmos os Três num barco ou na praia, e cairmos na água. O que me aflige é eu ter de escolher entre salvar-te ou salvar o teu pai. O que é que uma Pessoa faz numa situação dessas? Tu és a minha Filha, sangue do meu sangue, carne da minha carne, que Amo acima de tudo. Mas também Amo Muito o teu Pai. Se isso acontecer ou morremos os Três, ou na hora eu não sei o que vou decidir. Eu prefiro morrer e salvar um de vocês, se for uma situação Eu e Tu, ou Eu e o Pai vou fazer de Tudo para vos Salvar.”

A Lua já ia alta no céu, à lembrança veio-me um poema de Natália Correia:

“Sete Luas”

Há noites que são feitas dos meus braços
e um silêncio comum às violetas
e há sete luas que são sete traços
de sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
duma espada à bainha de um cometa.
Há noites que nos deixam para trás
enrolados no nosso desencanto
e cisnes brancos que só são iguais
à mais longínqua onda do seu canto.
Há noites que nos levam para onde
o fantasma de nós fica mais perto
e é sempre a nossa voz que nos responde
e só o nosso nome estava certo.

A Companheira Telma continua a partilhar convosco a nossa aventura.

Eu o Grilo Falante serei a voz desta viagem, retratarei imagens e contarei histórias. Sou um Espírito Aventureiro entre a Imaginação e a Razão. Até agora tivemos aventuras deliciosas, atribulações emocionais e sobretudo um Grande Companheirismo.

 


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